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28/06/2021

Indestrutíveis!

Indestrutíveis! Conheça a história do dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ 

 

Na década de 60, estabelecimentos destinados ao público não heterossexual nos Estados Unidos eram raros e extremamente precarizados, além disso havia uma série de Leis que impediam a demonstração de afeto por pessoas do mesmo sexo. Deste modo, Stonewall Inn, um bar localizado em Nova York, frequentado principalmente por gays, transgêneros e Drag queens rapidamente se tornou um importante refúgio onde pessoas LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) poderiam se expressar abertamente. 

Pouco tempo após ser descoberto pela polícia estadunidense, o estabelecimento foi alvo de uma invasão na manhã de 28 de junho de 1969. Na ocasião, funcionáres e frequentadorxs do bar foram agredidxs e presxs. Incontentes e cansadxs de viver se escondendo, iniciou-se no entorno de Stonewall Inn uma aglomeração de moradorxs do bairro e frequentadorxs do estabelecimento para protestar contra o autoritarismo e assédio policial contra a população LGBT. O violento embate entre manifestantes e polícia durou por mais 5 dias, muitas pessoas ficaram feridas até que um esquadrão de choque conseguisse dispersar a multidão. 

A luta por “direitos gays” já vinha ocorrendo nos Estados Unidos desde o início do século XX, mas o levante popular ocorrido em Stonewall Inn foi um marco histórico no ativismo LGBT, promovendo a criação de diversas frentes de ação que visavam conquistar a tão sonhada liberdade para a classe. No aniversário de um ano da Rebelião de Stonewall, milhares de pessoas marcharam pelas ruas de Manhattan, clamando por respeito e igualdade de direitos, reforçando o compromisso de manter viva a celebração do orgulho e o protesto contra o preconceito. O evento é então lembrado como a primeira Parada do Orgulho LGBT da América.

Anos se passaram e muitas conquistas foram alcançadas pela classe. Em 1990 a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais da Classificação Internacional de Doenças, e a oficialização da união entre pessoas do mesmo sexo foi adotada em vários países (incluindo o Brasil, em 2011). No Brasil, travestis e transexuais conquistaram por meio do decreto 8.727/2016 o direito de uso de nome social em instituições públicas federais e posteriormente a alteração de nome social também em documentos como RG, CPF e título de eleitor foi regulamentada. 

Através de muita luta, as pessoas LGBTQIA+ (QIA+ = Queer, intersexuais, assexuais e todas as outras identidades de gênero ou orientações sexuais que fujam da cis-heteronormatividade) vem ocupando diferentes espaços. Temos grandes representantes da classe na política, como a vereadora de São Paulo – SP Erika Hilton, na Música como Pabllo Vittar e Elton John, no cinema como Hugo Bonemer, na internet como Pedro HMC e Bianca DellaFancy e... (puxando a sardinha para o nosso lado) na Ciência não seria diferente. Grandes pesquisadorxs LGBTs contribuíram para o grande avanço na ciência e tecnologia observado nas últimas décadas.    

Alan L. Hart foi uma grande personalidade da ciência. O médico estadunidense transsexual foi responsável pela aplicação de Raios X para o diagnóstico precoce da pneumonia, doença que até então era diagnosticada tardiamente e por tanto era de mais difícil tratamento e consequentemente levava muitas pessoas a óbito. Matthew McGill, foi um pesquisador extremamente importante no avanço dos conhecimentos acerca da Atmosfera terrestre, ele foi premiado pela Organization of Gay and Lesbian Scientist and Technical Professional, organização que incentiva a consolidação de pessoas LGBTs na ciência e educação nos Estados Unidos. Alan Turing, considerado o pai da informática, foi um cientista inglês protagonista na vitória aliada sobre o nazismo alemão durante a segunda guerra mundial, sendo responsável pelo desenvolvimento da primeira máquina computacional do mundo, capaz de decifrar códigos secretos de comunicação alemã. Infelizmente, após a divulgação de sua homossexualidade o cientista foi sujeito a castração química e morreu anos depois.

Pode parecer clichê a frase de que “ser LGBTQIA+” nunca foi fácil, mas ela é extremamente verídica. Em países como, Catar e Argélia ser LGBTQIA+ é crime e em países como Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Sudão, Nigéria e Somália é aplicada pena de morte a estas pessoas. O Brasil, embora tenha tido alguns importantes avanços na luta por igualdade de direitos, é o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo, segundo dados de 2016 do IBGE, a expectativa de vida de travestis e transsexuais é de 35 anos, segundo a mesma pesquisa o restante da população vive em média 75,5 anos.

O Brasil, assim como diversos outros países do mundo, é um país machista, heteronormativo, racista e conservador. Esses estigmas presentes em várias esferas da sociedade, como famílias igrejas e escolas é algo que destrói sonhos, que vulnerabiliza e tira vidas. Para alcançarem seus objetivos, pessoas LGBTQIA+ (incluindo o autor deste texto) precisam se esforçar mais que o restante da população. Chegar a uma universidade pública/centro de pesquisa, como LGBTQIA+ traz uma grande realização, mas também uma grande responsabilidade, a responsabilidade de usar nossa voz e nosso espaço para lutar pra que outres como nós também consigam realizar seus sonhos. Por tanto, fica aqui uma homenagem a todes xs pesquisadorxs LGBTQIA+ do CRID, bem como o nosso incondicional apoio para combater o preconceito e a intolerância na ciência e em quaisquer outras esferas da sociedade. Lembrem-se que ninguém solta a mão de ninguém!

 

Texto escrito por Samuel dos Santos Oliveira, Biólogo, Mestrando em Imunologia básica e Aplicada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP.

Em nome dos pesquisadores do CRID (foto), abraçamos os cientistas LGBTQIA+ todos os dias.

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