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19/05/2025 15h49

As meninges hospedam um compartimento distinto de células T reguladoras que preservam a homeostase encefálica

Texto por Carlos Guilherme Meschick

Por muito tempo, as meninges – membranas que recobrem o sistema nervoso central – foram vistas principalmente como barreiras físicas. No entanto, pesquisas recentes têm revelado um papel crucial dessa estrutura na manutenção da saúde cerebral, servindo como um arcabouço de células imunes. O estudo “The meninges host a distinct compartment of regulatory T cells that preserves brain homeostasis”, publicado por Miguel Marin-Rodero e colaboradores na Science Immunology, demonstra uma população distinta de células T regulatórias (Tregs) residente nas meninges e sua importância vital na preservação da homeostase encefálica.

As Tregs são um tipo especializado de célula imune com a função principal de restringir a resposta imunológica. Sua presença em diversos tecidos é fundamental para manter o equilíbrio inflamatório, evitando, assim, uma resposta inflamatória excessiva. Os pesquisadores demonstraram que as Tregs que residem nas meninges do encéfalo exibem um perfil molecular particular, adaptado ao microambiente cerebral, sendo essencial para proteger a neurogênese hipocampal e, consequentemente, a formação de novas memórias.

Um dos achados mais importantes do estudo foi a demonstração de que a depleção das Tregs nas meninges de camundongos leva a um aumento da infiltração de leucócitos no sistema nervoso central, principalmente de linfócitos. Além disso, a ausência dessas células protetoras resultou em um aumento na produção de INF-γ, promovendo um perfil pró-inflamatório das células da glia e reprogramando as células progenitoras de neurônios para um perfil apoptótico. Isso sugere fortemente que essas Tregs residentes nas meninges desempenham um papel ativo na supressão de respostas inflamatórias nas meninges e no parênquima encefálico, atuando como guardiões da homeostase no microambiente cerebral.

As implicações desses achados são vastas e abrem novas portas para a compreensão e possíveis tratamentos de diversas doenças neurológicas. Desregulações no sistema imunológico, incluindo a função das Tregs, estão implicadas em patologias como a esclerose múltipla, o Alzheimer e outras doenças neuroinflamatórias. Compreender o papel específico das Tregs das meninges nessas condições pode levar ao desenvolvimento de terapias mais direcionadas, visando modular a resposta imune localmente nas meninges para proteger o encéfalo.


Imagem 1. Representação esquemática do mecanismo no qual as Tregs mantém a homeostase no encéfalo. 

Em resumo, este estudo revela uma nova faceta da interação entre o sistema imunológico e o sistema nervoso central, destacando as Tregs presentes nas meninges como interface crucial na manutenção da homeostase cerebral. Essa descoberta não apenas expande nosso conhecimento sobre a imunologia do sistema nervoso central, mas também oferece novas perspectivas para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas inovadoras para uma variedade de doenças neurológicas.

Sobre o autor:

Carlos Guilherme Meschick é mestrando do Programa de Pós-graduação em Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, onde desenvolve pesquisa sobre a comunicação neuroimune no desenvolvimento da dor neuropática diabética no Laboratório de Inflamação e Dor - LID.

Referências:

MARIN-RODERO, M. et al. The meninges host a distinct compartment of regulatory T cells that preserves brain homeostasis. Science immunology, v. 10, n. 104, 2025

Glossário

Neurogênese: processo de formação de novos neurónios no cérebro 

Células da glia: células não neuronais do sistema nervoso central e periférico que desempenham papéis essenciais na função e sustentação dos neurônios (ex: astrócitos e micróglia)

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