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08/07/2025

8 de Julho: Dia Mundial das Doenças Alérgicas

O Dia Mundial da Alergia, celebrado em 8 de julho, é uma oportunidade para refletirmos sobre as doenças alérgicas, que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Essas condições, frequentemente tratadas como desconfortos cotidianos, são na verdade manifestações de uma resposta imune desregulada, marcada pela ativação exacerbada da imunidade do tipo 2 frente à substâncias normalmente inofensivas, como pólen, poeira, alimentos ou proteínas de ácaros. A resposta inicia com a fase de sensibilização: ao primeiro contato com o alérgeno, células dendríticas capturam e apresentam fragmentos desse antígeno a linfócitos T naïve, induzindo sua diferenciação em células Th2, que passam a secretar citocinas como IL-4, IL-5 e IL-13. Essas moléculas sinalizadoras induzem os linfócitos B a produzirem imunoglobulina E (IgE) específica para aquele alérgeno. A IgE se liga a receptores de alta afinidade (FcεRI) presentes em mastócitos e basófilos, sensibilizando essas células¹-³.

Quando ocorre nova exposição ao alérgeno, a IgE ligada aos mastócitos reconhece o antígeno e desencadeia sua ativação, com liberação imediata de mediadores inflamatórios como histamina, prostaglandinas e leucotrienos, responsáveis pelos sintomas clássicos de alergia, como coceira, espirros, broncoconstrição e urticária¹,³. Citocinas e quimiocinas também são liberadas, recrutando eosinófilos e sustentando a inflamação na fase tardia da resposta¹,². Além da resposta adaptativa, o sistema imune inato tem papel essencial: células epiteliais liberam alarminas como TSLP, IL-25 e IL-33, que ativam células linfoides inatas do tipo 2 (ILC2), contribuindo para a perpetuação da resposta inflamatória. Estudos recentes mostram que, para sustentar essa ativação, as células imunes também reprogramam seu metabolismo, modulando vias como a glicólise e a oxidação de ácidos graxos4.

Embora a produção de IgE seja central, outras classes de anticorpos também modulam a resposta alérgica. A IgG específica, por exemplo, pode competir com a IgE pela ligação ao alérgeno, bloqueando a ativação de mastócitos e basófilos, mecanismo explorado na imunoterapia alérgeno-específica³,5. Ainda assim, a própria IgE pode intensificar a resposta, facilitando a apresentação de antígenos pelas células apresentadoras e promovendo a diferenciação contínua de células Th2, estabelecendo um ciclo de retroalimentação6. A interação entre o sistema imune e o sistema nervoso também se mostra relevante: neurônios sensoriais detectam alérgenos e contribuem para a ativação de células imunes, enquanto citocinas do tipo 2 podem sensibilizar terminações nervosas, amplificando os sintomas7.

A resposta imune alérgica é variável e depende do tipo de alérgeno, da via de exposição e do contexto clínico. Nas alergias IgE-mediadas, como anafilaxia alimentar, rinite alérgica e asma atópica, ocorre produção robusta de IgE e degranulação imediata de mastócitos e basófilos após reexposição, levando a manifestações clínicas agudas como urticária e broncoespasmo5. Já nas formas mistas ou não-IgE mediadas, como esofagite eosinofílica e dermatite atópica, os níveis de IgE podem ser baixos, com resposta predominante de IgG4, infiltração de eosinófilos e ativação de vias celulares locais. A síndrome alfa-gal, por sua vez, se caracteriza por reação tardia (3 a 6 horas após a exposição) e presença de IgE contra carboidratos como a galactose-α-1,3-galactose5. As respostas também diferem entre alergias sazonais, como a induzida por pólen de bétula, que promovem forte polarização Th2, e alergias perenes, como as causadas por ácaros, que induzem respostas mais heterogêneas envolvendo perfis Th1, Th2 e Th17, além de maior diversidade funcional das células T7,8.

A asma oferece um exemplo ilustrativo dessa diversidade: enquanto a forma atópica é classicamente mediada por IgE e citocinas Th2, a asma não atópica pode decorrer da ativação de células inatas como ILC2, basófilos e da liberação de alarminas, com menor envolvimento da IgE¹-³. O tipo de alérgeno também influencia a polarização da resposta das células T, com alguns antígenos promovendo perfis Th2 (com IL-5 predominante), enquanto outros induzem respostas mistas, incluindo citocinas Th1 e Th17, o que impacta diretamente o fenótipo clínico e a resposta ao tratamento7,8.

Do ponto de vista clínico, as doenças alérgicas se distribuem em grupos com mecanismos distintos. A atopia abrange doenças mediadas por IgE, como dermatite atópica, asma e alergias alimentares, com forte componente genético e associação com níveis elevados de IgE e história familiar¹-³. A dermatite de contato alérgica, por outro lado, é uma reação de hipersensibilidade tardia, mediada por linfócitos T, após exposição cutânea a alérgenos. Embora compartilhem sintomas com doenças atópicas, seus mecanismos imunológicos são distintos. Estudos sugerem que pacientes com dermatite de contato alérgica têm maior prevalência de outras doenças atópicas, como rinite e eczema, mas sem associação clara com asma4. Já a asma, doença inflamatória crônica das vias aéreas, manifesta-se por obstrução variável do fluxo aéreo, dispneia, sibilância e tosse, e pode ou não estar associada à atopia5,6.

Embora a imunidade do tipo 2 esteja no cerne da maioria das doenças alérgicas, os mecanismos são múltiplos e ainda em ampla investigação. Entender essa diversidade é essencial para desenvolver terapias personalizadas e mais eficazes. No CRID, reforçamos o compromisso de traduzir esse conhecimento científico em avanços concretos para a saúde da população.

Referências

  1. Bernstein JA, et al. JAMA. 2024;331(10):866-877. doi:10.1001/jama.2024.0530
  2. Gao YD, et al. Allergy. 2025. doi:10.1111/all.16620
  3. Shamji MH, et al. Allergy. 2021;76(12):3627–3641. doi:10.1111/all.14908
  4. Goretzki A, et al. Allergy. 2021;76(11):3314–3331. doi:10.1111/all.14843
  5. Platts-Mills TAE, et al. J Allergy Clin Immunol. 2016;137(6):1662–1670. doi:10.1016/j.jaci.2016.04.010
  6. Zhou X, et al. J Exp Med. 2021;218(7):e20201793. doi:10.1084/jem.20201793
  7. Chiu IM, Sokol CL. Curr Opin Immunol. 2024;90:102458. doi:10.1016/j.coi.2024.102458
  8. Wambre E, et al. Clin Exp Allergy. 2011;41(2):192–203. doi:10.1111/j.1365-2222.2010.03641.x

 

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