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15/10/2021

Dia do Professor

Hoje comemoramos o Dia do Professor e não poderíamos deixar essa data passar sem homenagear esse profissional tão importante para sociedade de modo geral. O dia 15 de outubro foi escolhido como Dia do Professor em referência à data em que o imperador D. Pedro I instituiu o Ensino Elementar no Brasil, em 1827. A partir de 1963 o Dia do Professor passou a ser comemorado oficialmente em todo o Brasil.

O Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias é composto por um brilhante quadro de docentes, profissionais altamente qualificados e comprometidos com a formação da nova geração de cientistas brasileiros, produção acadêmica e difusão da ciência, características  imprescindíveis para manter o padrão de qualidade de nosso centro.

Aproveitando essa data especial, resolvemos contar um pouco mais sobre a rotina dos profissionais docentes presentes no CRID. Desse modo, convidamos dois professores para fazer um relato sobre os desafios da carreira docente. Larissa Cunha é Professora Doutora do Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos (FMRP-USP) e Luiz Osório é Professor Doutor do Departamento de Farmacologia, ambos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Ambos são associados ao Centro de pesquisa em doenças inflamatóriasOs dois iniciaram como docente recentemente e estão nesse processo de estabelecer seus respectivos grupos de pesquisa. Na presente entrevista discutimos questões gerais referente a centralidade e desafios do fazer docente.

Desafios e aspectos motivadores da formação de novos profissionais.

“Os desafios dos professores, mesmo em países desenvolvidos, são muitos, e giram principalmente em torno da criação de ambiente propício ao desenvolvimento da ciência, o que requer massa crítica, estrutura física e tecnológica, além do desenvolvimento técnico das ferramentas científicas e metodológicas que vão servir de base para o funcionamento desse laboratório”, afirma o prof. Luiz Osório. Outro aspecto importante para o qual o prof. Luiz deu destaque, foi a gestão das pessoas individualmente e do grupo como um todo, pois, ao longo de sua formação profissional, não havia desenvolvido tal habilidade ainda, mas foi algo que se deparou logo no início da carreira docente.

“Este talvez seja um dos aspectos mais desafiadores no Brasil hoje, pois os crescentes ataques sofridos pela ciência, com cortes gigantescos dos recursos disponíveis, levaram o ambiente acadêmico a um desânimo muito grande. A verdade é que hoje há uma falta de perspectiva de carreira docente aqui no Brasil, especialmente para aqueles alunos que gostariam de retornar aos seus estados, onde teriam que fazer ciência com recursos federais. Manter estes alunos motivados e equilibrados emocionalmente é um desafio enorme que temos que enfrentar juntos, e com o devido suporte da universidade”, afirma Luiz.

Para profa. Larissa, os desafios e as preocupações são vários, por exemplo:  ser capaz de estabelecer a estrutura de pesquisa necessária para que eles possam desenvolver seus projetos, garantir a verba e o espaço necessários para montar e manter o laboratório; estabelecer a ‘cara’ do seu grupo de pesquisa; fazer com que os erros que comete nessa fase inicial da carreira (porque eles acontecerão!) não prejudiquem seus orientandos; encontrar um balanço para que a dedicação ao aprendizado da docência e gestão acadêmica, outros aspectos fundamentais inerentes à rotina do professor-pesquisador, não eclipsem o tempo e a energia que precisam ser gastos para aprender a orientar.

Outro desafio importante citado pela profa. Larissa é o desenvolvimento da capacidade de se adaptar frente às alterações de curso que fogem do roteiro que você havia planejado para o início da sua carreira. “Há também um desafio emocional que não é fácil de lidar: o estabelecimento do grupo é um trabalho de construção lento. Para quem sai do pós-doutorado fervilhando de ideias e projetos, em áreas de pesquisa competitivas e sob a pressão de que precisa se estabelecer como pesquisador independente nesses primeiros anos, é preciso aprender a controlar a ansiedade – e suas consequências maléficas – sobre os membros desse laboratório que está em formação”, ressalta Larissa. A docente acredita que esses são desafios naturais do início da carreira; obviamente, com a pandemia, instabilidade econômica e polarização política e social, eles apenas se acentuam.

O que mantém Larissa Cunha motivada talvez seja algo compartilhado por outros colegas, quando diz que a pesquisa é um campo onde você sempre é exposto a novidade e está em um constante processo de aprendizado, enquanto se dedica a uma carreira que tem uma finalidade fundamental para a sociedade. A presença desses jovens cientistas no laboratório traz uma energia de trabalho e de discussão de ideias que não apenas contribuem para a qualidade da pesquisa desenvolvida, mas fazem o cotidiano dinâmico e prazeroso – dois pontos importantes que trazem muita satisfação na carreira.

A professora resume sua motivação também nas realizações de seus alunos. “A satisfação alcançada com um experimento do seu aluno que funciona e do projeto que vai para frente porque os desafios que surgiram foram enfrentados é equivalente àquela que você sentia quando estava no IC e na pós-graduação - e que contribuiu para te manter seguindo o curso. Mais bacana ainda é quando você vê essa satisfação acontecendo com seus próprios alunos”

A centralidade da relação Orientador-Orientando dentro do escopo geral da carreira docente da USP.

A pesquisa é um componente fundamental do tripé da docência na USP. Como a base da pesquisa acadêmica no Brasil é formada pelos alunos de graduação e pós-graduação, Larissa Cunha considera que a relação orientando-orientador é fundamental na carreira docente. Segundo a professora, a produção científica feita pelos seus orientandos é o que permitirá manter o fomento da pesquisa. Ela menciona que o sucesso desses orientandos como egressos do seu grupo de pesquisa faz parte da avaliação do seu progresso como pesquisadora e o avanço na carreira docente.

“Há uma responsabilidade importante assumida nessa relação que é a de conduzir os estudantes pelas suas primeiras experiências em pesquisa, moldando o desenvolvimento e amadurecimento deles como pesquisadores e interferindo diretamente na sua satisfação com a vida acadêmica. As atitudes do orientador tendem a impactar a carreira de seus alunos na ciência, e essa não é uma responsabilidade pequena”, ressalta a professora.

Para Luiz, essa é uma relação “chave” na carreira do docente, pois a formação de novos cientistas através do processo de orientação é potencializadora da atuação por constituir uma ação multiplicadora. Quer dizer que se durante a minha carreira docente eu orientar 30 pós-graduandos que efetivamente nuclearam seus grupos, e cada um deles formar mais 20 em média, eu terei gerado além de 30 “filhos” cientistas, mais de 600 “netos” cientistas, e assim por diante. Isso é algo muito potente dentro da universidade e dá ao orientador a capacidade de propagar princípios éticos, hábitos e formas de pensar por diferentes gerações de cientistas”.

O professor reforça que isso é algo muito potente dentro da universidade e dá ao orientador a capacidade de propagar princípios éticos, hábitos e formas de pensar por diferentes gerações de cientistas. Olhando por esse prisma, Luiz ressalta que é importante que o orientador tenha a dimensão da sua capacidade influenciadora sobre os orientandos, que vai muito além da transmissão de conhecimento científico, mas na verdade passa pela implementação de uma filosofia de trabalho que compõe o ambiente laboratorial e que se sustenta ao longo de muitos anos. “É através dessa relação que o professor tem a oportunidade (e a responsabilidade) de desenvolver um ambiente onde os pós-graduandos tenham uma formação que transcenda a transmissão do conhecimento e a produção científica, mas que permita o desenvolvimento de uma atitude inovadora e questionadora, que consolide práticas de ciência aberta e transparente, que estabeleça a generosidade e o respeito como práticas cotidianas, e que seja fundada sobre princípios éticos sólidos, afirma ele.

A contribuição da afetividade na mediação das relações acadêmicas.

Para a prof. Larissa, as relações acadêmicas não deixam de ser relações humanas e certamente a afetividade é um aspecto importante de como elas se desenrolam. A docente acredita que a forma como essa afetividade é exercida no meio acadêmico possa ser discutida e ajustada para que possa ampliar seu impacto positivo sobre a saúde mental dos envolvidos, pois, segundo ela, o impacto da vida acadêmica na saúde mental é fruto de uma combinação complexa com outras questões sociais e individuais que estão em constante transformação.

“Será que o exercício da nossa afetividade não pode ser moldado para que de fato amenize o sofrimento mental ao nosso redor, principalmente em relação aos nossos orientandos?”, questiona a professora.

Larissa acredita que esse é um ponto que precisa ser melhor trabalhado no meio acadêmico. “Muitas vezes não temos o conhecimento, treinamento ou vivência para saber responder de forma efetiva às situações que irão surgir”, diz ela.

Luiz acredita que tudo envolve a capacidade de, enquanto professor e líder de grupos, formar ambientes de trabalho adequados para o convívio e para o estabelecimento de relações sadias entre todos. “Não somente o aluno, mas qualquer funcionário que trabalhe com outros colegas, se sentirá mais à vontade e feliz em um ambiente mais leve e agradável, e como consequência vai sentir mais prazer em fazer o que faz”, ressalta ele.

Criar esse ambiente requer a participação muito ativa do professor em meio ao grupo e, obviamente, ele mesmo tem que ser capaz de transmitir alguma positividade e propiciar a harmonia e leveza que o ambiente requer, afirma Luiz.

A afetividade está muito relacionada a esse processo, pois é importante que o aluno tenha estima e alguma admiração pelos seus colegas de grupo e pelo seu professor, e diria que é importante que estes lhe sirvam até como inspiração. Enquanto estudante, estar em um ambiente que não te inspire e onde as pessoas não lhe servem como estímulo, na verdade pode ser bastante desanimador, finaliza o professor.

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