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28/06/2023

Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+

REPRESENTATIVIDADE LGBTQIAPN+ NA CIÊNCIA

 

Nesta quarta-feira, 28 de Junho, comemora-se o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, marcando a mobilização e a luta pela igualdade de direitos e pelo respeito às diferenças relativas à orientação sexual e à identidade de gênero. Essa expressiva comunidade, ainda sofre diversos obstáculos no que diz respeito ao reconhecimento e representatividade dentro da sociedade. Nesse sentido, gostaríamos de exaltar cientistas que compõem a comunidade ou que realizam contribuições científicas gerando avanços e melhorias na vida dessas pessoas!

 

 Ao longo da história, grandes revoluções científicas foram realizadas por pessoas LGBTQIAPN+. Alan Turing, conhecido como o pai da computação, era  homossexual. Alan Hart, um grande nome da luta contra a tuberculose, foi um homem transgênero. Sally Ride, a primeira mulher americana a ir ao espaço, era uma mulher bissexual. Mesmo existindo em sua diversidade, essas pessoas tiveram sua sexualidade silenciada, escondida ou até julgada criminalmente ao longo de suas vidas. 

 

Atualmente, por mais que se tenha conquistado espaço e direitos, comparativamente, ainda encontramos espaços inacessíveis para pessoas LGBTQIAPN+. No Brasil, estima-se que 19 milhões de brasileiros se autodeclaram como assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgênero, entretanto, um estudo brasileiro, denominado “Levantamento da Ciência LGBTQIA+ Brasileira” apontou em seus dados preliminares que apenas 10% dos cientistas, estudantes e pesquisadores brasileiros LGBTQIA+ são pessoas trans, evidenciando as gritantes disparidades existentes. 

 

É válido pensarmos que se não há grande representatividade na ciência, avanços em termos de saúde, tecnologias de assistência e políticas públicas voltadas a essa população vão caminhar a passos mais lentos. No ano de 2021, um grupo de médicos pertencentes e/ou aliados à causa, comprometidos a colocar em evidência a importância de se discutir saúde da comunidade LGBTQIAPN+ nas salas de aulas, pós graduações e quaisquer meios, escreveram o livro “Saúde LGBTQIA+: práticas de cuidados transdisciplinar”. A obra deu origem a cursos para profissionais da saúde interessados e apesar de ainda não compor a grade curricular da maioria das universidades, foi um importante marco no que diz respeito ao cuidado a esta população no Brasil, um país que se apresenta de forma ainda bastante atrasada em relação à causa.


 

REPRESENTATIVIDADE NO CRID

 

Em 2022, foi publicado o estudo “Th17 cell-linked mechanisms mediate vascular dysfunction induced by testosterone in a mouse model of gender-affirming hormone therapy” que visou analisar o impacto cardiovascular da testosterona, que é o principal hormônio utilizado na terapia hormonal de afirmação de gênero de pessoas trans masculinas. Até então, pouco se sabia sobre esse possível efeito colateral e o estudo conduzido pelo Dr. Jeimison Santos e pela Dra. Rita Tostes, representa um grande passo no que diz respeito à saúde dessas pessoas. 

De acordo com o Dr. Jeimison: “o artigo derivado da minha tese de doutorado publicado na AJP-Heart and Circulatory Physiology, da American Physiological Society, evidenciando potenciais alvos terapêuticos para redução do risco cardiovascular (relacionados ao sistema imunológico) decorrentes da hormonização com testosterona em indivíduos trans masculinos. Um pequeno passo, mas que certamente contribuirá para otimização de práticas clínicas voltadas para pessoas transgênero”

 

REPRESENTATIVIDADE NOS ESTUDOS CLÍNICOS

Em um estudo publicado em 2020 na revista Comtemporany Clininal Trial, de 6.989 estudos analisados de um banco de dados sobre cancer, apenas 153 possuíam informação sobre pessoas transgênero e genêro diverso (não-binário), o que representa apenas 2,2% de inclusão dessa população na coleta de dados. A falta de dados sobre essas diversidades pode prejudicar determinadas populações não considerando suas particularidades na busca e interpretação de resultados.

Se faz necessário considerar a variedade étnica, sexual e de gênero em estudos clínicos, para que se consiga extrair resultados mais completos, visando a população como um todo. Sabe-se que falta de confiança é um fator que limita o acesso das pessoas à informação correta sobre saúde, como cuidados preventivos ou a aderência aos tratamentos e isso se dá pois essas pessoas não se sentem representadas e acolhidas nestes espaços, muito provavelmente pela ausência da participação de grupos minorizados em estudos clínicos e a pouca produção e divulgação científica direcionada. 

 

REPRESENTATIVIDADE NA SAÚDE PÚBLICA

 

O Processo Transexualizador foi instituído em 2008 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), passando a permitir o acesso a procedimentos como hormonização, cirurgias de modificação corporal e genital, assim como acompanhamento multiprofissional gratuitamente. O programa foi redefinido e ampliado pela Portaria 2803/2013, passando a incorporar como usuários os homens trans e as travestis, tendo em vista que até então apenas as mulheres trans eram assistidas pelo serviço.

Atualmente, o SUS conta com uma Política Nacional de Saúde Integral LGBTI bem estruturada, mas ainda existe o problema da falta de preparo dos profissionais do serviço para lidar com este público, afetando o acesso dessa população ao serviço. Aspectos como a desinformação acerca da importância do uso de nome social e pronomes, negligência da saúde ginecológica de mulheres que se relacionam com outras mulheres, associação direta de homens gays e travestis à HIV/AIDS e outras IST’s são fatores que acarretam no afastamento dessas pessoas ao serviço Além disso, as trocas periódicas de governos e consequentemente, ideologias mudam totalmente o acesso a recursos que o serviço tem, acarretando mudanças na prática profissional referente, dentre outros, ao tópico LGBTQIAPN+.

 

REFLEXÃO

Uma vez que serviços como o processo transsexualizador são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde, faz-se necessário investimento em produção de ciência acerca do tema, para garantir segurança e qualidade da assistência a essas pessoas. Além de proporcionar estudos mais fidedignos e a integração de grupos populacionais nos bancos de dados, esta inclusão de pessoas em sua diversidade também permite que os profissionais de saúde e público no geral adquiram mais informação e capacitação para lidar com grupos que, mesmo considerados socialmente minoritários, compõem grande parcela da sociedade.



 

FONTES:

SANTOS, Jeimison D. et al. Th17 cell-linked mechanisms mediate vascular dysfunction induced by testosterone in a mouse model of gender-affirming hormone therapy. American Journal of Physiology-Heart and Circulatory Physiology, v. 323, p. H322-H335, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1152/ajpheart.00182.2022. Acesso em: 27 jun. 2023.

 

AEROJR. 5 Ícones LGBT Que Revolucionaram A Ciência. UFMG, 2019. Disponível em: https://aerojr.com/blog/5-icones-lgbt-que-revolucionaram-a-ciencia/

 

GZH. Brasil tem 12% de pessoas LGBT+, mostra levantamento. Porto Alegre, 2022. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2022/11/brasil-tem-12-de-pessoas-lgbt-mostra-levantamento-cla045t81008k014uc10q17d3.html#:~:text=Os%20dados%20da%20pesquisa%20mostram,diversidade%20sexual%20e%20de%20g%C3%AAnero.

 

ANTRA. COMO ACESSAR O SUS PARA QUESTÕES DE TRANSIÇÃO?. 2020. Disponível em: https://antrabrasil.org/2020/07/27/como-acessar-o-sus-para-questoes-de-transicao/

 

JORNAL DA UNIVERSIDADE. Pesquisa inédita mapeia a presença LGBTQIA+ na ciência brasileira. UFRGS, 2022. Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/pesquisa-inedita-mapeia-a-presenca-lgbtqia-na-ciencia-brasileira/#:~:text=Representatividade%20importa&text=Profissionais%20da%20ci%C3%AAncia%20negros%2C%20ind%C3%ADgenas,na%20realidade%20da%20ci%C3%AAncia%20brasileira

 

REZENDE, Viviane. Diversidade em estudos é essencial para melhorar a saúde da população. Veja Saúde, 2023. Disponível em: https://saude.abril.com.br/coluna/com-a-palavra/diversidade-em-estudos-e-essencial-para-melhorar-a-saude-da-populacao


CIASCA et al. Saúde LGBTQIA+ : práticas de cuidado transdisciplinar.1. ed. - Santana de Parnaíba, SP. Manole, 2021

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