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25/06/2025

Do sistema imune à saúde mental: por que o vitiligo exige uma abordagem integrada

Hoje, 25 de junho, é celebrado o Dia Mundial do Vitiligo, data dedicada à conscientização sobre essa condição autoimune que afeta cerca de 1 a 2% da população mundial. Embora seja conhecida por provocar manchas despigmentadas na pele, os impactos do vitiligo vão muito além do aspecto estético. A doença envolve mecanismos imunológicos complexos, repercussões emocionais profundas e desafios ainda em aberto para o cuidado integral e a formulação de políticas públicas inclusivas.

O vitiligo é amplamente reconhecido como uma doença autoimune, caracterizada pela destruição seletiva dos melanócitos cutâneos, mediada por linfócitos T citotóxicos, especialmente TCD8+. Citocinas como o IFN-γ e quimiocinas (CXCL9 e CXCL10) desempenham papel central no recrutamento e manutenção da resposta inflamatória cutânea¹,². Estudos genéticos demonstram que muitos dos loci de risco para o vitiligo envolvem genes reguladores da imunidade, incluindo variantes no complexo de histocompatibilidade principal (MHC), e que há sobreposição significativa desses loci com outras doenças autoimunes, sugerindo mecanismos patogênicos compartilhados 3,4. Essa sobreposição é confirmada por estudos populacionais que mostram maior risco de doenças autoimunes sistêmicas e cutâneas em pessoas com vitiligo.

Entre as comorbidades mais frequentemente associadas estão a tireoidite autoimune (especialmente o hipotireoidismo), a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistêmico, o diabetes mellitus tipo 1, a anemia perniciosa, a doença de Addison, a alopecia areata, a esclerose sistêmica e a miastenia gravis5,6,8. O risco relativo para algumas dessas condições pode ser significativamente elevado, como observado para alopecia areata, doenças endócrinas e anemia perniciosa5,8. A presença de múltiplas comorbidades autoimunes é mais comum entre mulheres e pacientes mais velhos, o que reforça a importância de um olhar clínico integral8.

Estudos de randomização mendeliana sugerem que a suscetibilidade genética ao vitiligo pode aumentar o risco de outras doenças autoimunes, com metabólitos como histidina e piruvato atuando como possíveis mediadores bioquímicos compartilhados7. Além disso, há uma correlação entre maior carga poligênica e início mais precoce da doença, indicando a influência de fatores genéticos na expressão clínica do vitiligo³. No caso do vitiligo segmentar, embora a autoimunidade também esteja presente, a associação com doenças autoimunes sistêmicas é menos frequente, e outras vias patogênicas como o mosaicismo somático parecem estar envolvidos9.

Além dos aspectos imunológicos, o vitiligo impõe um peso psicológico significativo. A alteração da cor da pele, sobretudo em regiões visíveis, pode comprometer a autoestima, a percepção de identidade e a qualidade de vida. Estudos demonstram maior prevalência de ansiedade, depressão e isolamento social entre pessoas com vitiligo, especialmente na juventude, fase marcada pela construção da identidade e pelo pertencimento a grupos sociais. A exposição ao preconceito, aos olhares e às perguntas invasivas frequentemente aprofunda o sofrimento subjetivo, tornando essencial o cuidado com a saúde mental como parte do tratamento. Isso inclui apoio psicológico, acesso a grupos de acolhimento e a promoção de narrativas públicas que valorizem a diversidade da pele humana.

Neste Dia Mundial do Vitiligo, reafirmamos que a pele pode perder a cor, mas jamais a dignidade. E que a ciência, quando orientada pela empatia, também é um gesto de acolhimento.

 

Referências

1. Frisoli ML, Essien K, Harris JE. Vitiligo: Mechanisms of Pathogenesis and Treatment. Annual Review of Immunology. 2020;38:621–648.

2. Yamaguchi HL, Yamaguchi Y, Peeva E. Pathogenesis of Alopecia Areata and Vitiligo: Commonalities and Differences. Int J Mol Sci. 2024;25(8):4409.

3. Roberts GHL, Fain PR, Santorico SA, Spritz RA. Inverse Relationship Between Polygenic Risk Burden and Age of Onset of Autoimmune Vitiligo. Am J Hum Genet. 2024;111(11):2561–2565.

4. Jin Y, Andersen G, Yorgov D, et al. Genome-Wide Association Studies of Autoimmune Vitiligo Identify 23 New Risk Loci. Nat Genet. 2016;48(11):1418–1424.

5. Lee JH, Ju HJ, Seo JM, et al. Comorbidities in Patients With Vitiligo: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Invest Dermatol. 2023;143(5):777–789.e6.

6. Hadi A, Wang JF, Uppal P, Penn LA, Elbuluk N. Comorbid Diseases of Vitiligo. J Am Acad Dermatol. 2020;82(3):628–633.

7. Yang S, Hu X, Zou P, et al. Roles of Blood Metabolites in Mediating the Relationship Between Vitiligo and Autoimmune Diseases. Int Immunopharmacol. 2024;133:112132.

8. Rios-Duarte JA, Sanchez-Zapata MJ, Silverberg JI. Association of Vitiligo With Multiple Autoimmune Diseases. Arch Dermatol Res. 2023;315(9):2597–2603.

9. Speeckaert R, Lambert J, Bulat V, et al. Autoimmunity in Segmental Vitiligo. Front Immunol. 2020;11:568447.

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