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02/10/2023

Estresse - como as descobertas e avanços científicos na área podem auxiliar a promoção de saúde mental

Estresse, emoções e comportamentos - Como as descobertas e avanços científicos na área podem auxiliar a promoção de saúde mental 

Sabe-se que o estresse tem papel prejudicial na saúde física e emocional, entretanto o que o estresse desencadeia, em termos moleculares, ainda está em descoberta. A pesquisa básica tem papel fundamental no desenvolvimento de descobertas que podem ser utilizadas para melhorar a qualidade de vida da população. Tendo isso em vista, a equipe do CRID entrou em contato com um pesquisador da FMRP,  Fábio Coelho, que desenvolve pesquisa relacionada ao stress.

Foto: Acervo pessoal do Pesquisador Fábio Coelho. 

O objetivo principal deste trabalho foi avaliar o envolvimento da via do receptor TLR4 no CPFm nas consequências comportamentais do estresse agudo e a possível participação da sinalização endocanabinoide local. Mas o que isso significa?

De acordo com Fábio:

"Descobrimos algo muito interessante! Quando nosso corpo enfrenta um momento estressante, o nosso sistema de defesa, imune inato, ativa receptores chamados toll-like, especialmente os toll-like do tipo 4 (TLR4), deixando esses receptores mais ativos. A ativação desses receptores desencadeia o aumento de citocinas que aumentam o estado inflamatório, e isso pode influenciar diretamente nos nossos comportamentos e emoções.

E o que é mais curioso ainda: parece que o sistema de sinalização endocanabinoide no nosso corpo também está envolvido nisso! Isso é uma parte do nosso sistema que ajuda a regular várias coisas, incluindo nossas emoções.

Então, em resumo, quando estamos estressados, nosso corpo ativa o TLR4 e isso pode afetar nossas emoções e comportamentos. E o sistema endocanabinoide parece ter um papel importante nisso”.

 

Quais foram os principais achados e a importância deles para a área? 

De acordo com Fábio:

“Os estudos mostram que quando somos expostos a situações estressantes mesmo de forma aguda, nosso sistema de defesa, ativa um componente da via do sistema imune inato, um receptor do tipo toll-like, o TLR4, isso pode afetar nosso comportamento e até mesmo nossa saúde mental. Em modelo animal o estudo foi capaz de observar o aumento de níveis plasmáticos de corticosterona, que seria correspondente ao cortisol em humanos. Além disso, os nossos achados evidenciaram que os receptores TLR4 estão mais ativados em regiões encefálicas como córtex pré-frontal, que é uma região extremamente reativa ao estresse. 

Mas a boa notícia é que descobrimos maneiras de interferir nessa resposta ao estresse. Usamos algo chamado TAK-242, um fármaco que é capaz de bloquear o TLR4 e descobriram que isso ajuda a prevenir mudanças no nosso comportamento causado pelo estresse.

Isso é importante porque pode nos ajudar a entender melhor doenças mentais que têm relação com inflamação no cérebro. Mesmo que ainda não saibamos exatamente como o sistema endocanabinoide se encaixa nisso, mais pesquisas vão nos dar respostas.”

 

Quais foram suas motivações para aprofundar seus estudos nessa temática?

De acordo com Fábio:

“Estudar a neuropsicofarmacologia em conjunto com o sistema imunológico sempre foi uma temática que me atraiu, principalmente na tentativa de compreender como alterações imunológicas centrais e periféricas, podem ser em partes as responsáveis pelas alterações encefálicas ocasionadas em transtornos como depressão e ansiedade. Além disso, a investigação nessa, me levou a querer entender como inflamação, podem influenciar o funcionamento do cérebro, abrindo caminho para abordagens inovadoras no campo da saúde mental e destacando a importância de uma abordagem integrativa na compreensão e tratamento dessas condições.

Ao investigar como o estresse afeta nosso sistema neuroimunológico e comportamento, podemos obter insights valiosos sobre as doenças mentais, incluindo a depressão e a ansiedade, que estão frequentemente relacionadas ao risco de suicídio. Além disso, entender a ativação da via TLR4 e seu impacto nas mudanças comportamentais pode abrir portas para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para pessoas que sofrem de distúrbios psicológicos. Outra motivação importante, está relacionada a tentativa de desvendar ou compreender os mecanismos biológicos subjacentes ao estresse e às condições mentais, podemos encontrar maneiras de identificar e apoiar melhor as pessoas em risco de suicídio.”


Desafios e perspectivas para o futuro:

Em um contexto geral, considera-se que esta pesquisa possa servir como um ponto de partida para estudos subsequentes que aprofundem a compreensão das doenças mentais e sua relação com o estresse e o sistema neuro imune, bem como o papel do sistema endocanabinoide na regulação dessa resposta. Isso pode eventualmente levar a intervenções mais eficazes. O objetivo é compreender como outros elementos do sistema imunológico inato podem também ser, em parte, responsáveis por alterações comportamentais sugestivas de ansiedade, depressão, transtorno bipolar, entre outros, e como a expressão ou a falta de componentes do sistema endocanabinoide modulam essa resposta.

Conduzir pesquisas no Brasil é considerado uma tarefa difícil, dada a escassez de recursos e infraestrutura, bem como a constante emigração de nossa mão de obra qualificada para o exterior. A concorrência por bolsas e recursos de pesquisa é intensa, e garantir financiamento adequado para projetos de longo prazo é uma empreitada desafiadora. Isso muitas vezes resulta em uma carga de trabalho excessiva, que pode ter um impacto significativamente prejudicial na saúde mental dos pesquisadores.

Fábio finaliza: “Portanto, digo que meu trabalho é uma homenagem a esses guerreiros anônimos, que, independentemente de sua profissão ou posição social, mantêm viva a chama da esperança em um Brasil melhor.”

Agradeçemos ao escritor Fábio Coelho e a  Prof. Dra. Sabrina Lisboa pela colaboração. 

REFERÊNCIA:

Os dados utilizados nesta entrevista foram oriundos da dissertação de mestrado do discente Fábio Coelho  “Avaliação das consequências comportamentais da administração de um inibidor da vida do TLR4 no córtex pré-frontal medial após exposição ao estresse e possível envolvimento do sistema endocanabinoide”. O trabalho foi apresentado ao Programa de pós-graduação em Farmacologia-FMRP e estão disponíveis no sistema USP de Teses e Dissertações.

Os dados do trabalho estão em fase de submissão em duas revistas científicas A1 qualis capes.

 

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