NOTÍCIAS

MENU NOTÍCIAS

05/01/2021

Estudo demonstra como os efeitos do cigarro podem afetar a erosão óssea na artrite

Dra. Paula Barbim Donate, possue mestrado e doutorado em Imunologia pela Universidade de São Paulo. Tem experiência em imunogenética molecular e genômica funcional na área de autoimunidade. Atualmente é pós-doutora no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) e estuda a influência dos fatores ambientais na expressão e função de microRNAs (intra e extracelulares) na evolução do processo inflamatório crônico.

 

Estudo demonstra como os efeitos do cigarro podem afetar a erosão óssea na artrite

Fumar é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. A organização mundial da saúde destaca que entre as pessoas de meia-idade, o consumo de tabaco é o fator de risco evitável mais importante para a morte prematura em homens e o segundo fator de risco mais importante nas mulheres. Sabe-se que o tabagismo está relacionado ao desenvolvimento e a progressão de doenças autoimunes, processos alérgicos e câncer. Na artrite reumatóide, o tabagismo é um importante fator de risco associado com o desenvolvimento dessa doença, além de um pior prognóstico radiológico e uma menor resposta aos tratamentos. No entanto, nosso conhecimento sobre os efeitos específicos do cigarro no organismo ainda são muito superficiais.

A exposição à fumaça de cigarro pode exercer seus efeitos através de alterações no sistema imune, influenciando a função e ativação de diferentes subtipos celulares e a produção de mediadores inflamatórios. Um estudo anterior desenvolvido pelo CRID descreveu que a cronificação do processo inflamatório na artrite, resultante da exposição a fumaça do cigarro em camundongos, dependia em parte da ativação do receptor de hidrocarboneto arila (AhR) em um subtipo de células T CD4+ produtoras da citocina IL-17, chamadas Th17. O AhR é um sensor intracelular de poluentes que uma vez ativado promove a transcrição de genes envolvidos com a metabolização de xenobióticos e também de moléculas envolvidas em processos inflamatórios. Além disso, esse receptor é um importante indutor da diferenciação de células Th17, bem conhecidas por sua participação na indução e progressão do processo inflamatório na artrite.

Os efeitos do cigarro também podem promover alterações epigenéticas. Epigenética (do grego “epi” que significa acima) se refere as modificações herdadas e reversíveis do genoma que não promovem alterações na sequência do DNA. Essas alterações são muito flexíveis às respostas ambientais e permitem que o genoma se adapte a qualquer condição de mudança influenciando a expressão de genes. Dentre os mecanismos epigenéticos podemos destacar os microRNAs, uma classe de RNAs não codificantes que atua no controle pós-transcricional da expressão gênica e desempenha funções importantes na manutenção das respostas imunes. Alterações em sua expressão estão associadas ao aparecimento de inúmeras patologias, entre elas a artrite reumatóide.

No presente estudo que tem como primeiro autor a Dra. Paula Barbim Donate e como supervisor o Prof. Fernando Cunha, ambos membros do Crid, demonstrou-se que a ativação do AhR nas células Th17, além de induzir a produção das citocinas de padrão Th17, promove também a expressão de um grupo específico de microRNAs. O bloqueio farmacológico e genético desse receptor resultou na redução dos mesmos. Um dos microRNAs mais expressos em células Th17, o miR-132, está associado com a gravidade da artrite resultante da exposição à fumaça do cigarro, em modelo experimental. De maneira similar, pacientes diagnosticados com AR também apresentam um aumento da expressão do miR-132 nas células T CD4+ quando comparados aos indivíduo controle, e os níveis mais altos deste microRNAs são detectados nos pacientes fumantes.

Com o objetivo de entender o mecanismo pelo qual o miR-132 estaria relacionado com a potencialização da resposta inflamatória observada na artrite, as células Th17 foram tratadas com um antagonista do miR-132. Surpreendentemente as principais funções e características destas células não foram alteradas. Descobriu-se que o miR-132 é liberado para o meio extracelular no interior de vesículas e pode influenciar o processo de formação de novos osteoclastos (osteoclastogênese), células envolvidas com a degradação da matriz óssea. Células Th17, após a ativação de AhR por componentes da fumaça do cigarro, liberam grandes quantidades de miR-132 que atuam como mediadores inflamatórios induzindo a diferenciação de osteoclastos através da inibição da enzima ciclo-oxigenase 2 (COX-2). Essa enzima está associada com a produção de mediadores lipídicos que controlam o processo de osteoclastogênese. Na artrite reumatóide é bem conhecido que um descontrole do processo de reaborção óssea resulta em erosão, perda de mobilidade e comprometimento das atividades diárias dos pacientes, quadro este irreversível. A ciência vem desvendando como os microRNAs liberados em vesículas estão influenciando o desenvolvimento de diversas doenças. A descoberta deste novo mecanismo associado aos efeitos epigenéticos do cigarro no desenvolvimento do processo inflamatório crônico na artrite pode auxiliar no desenvolvimento de novas terapias para aliviar o dano articular.

 

 

Saiba mais: https://agencia.fapesp.br/descoberto-mecanismo-inflamatorio-responsavel-pela-erosao-ossea-na-artrite-reumatoide/34923/

Assine nossa newsletter