18/06/2025
O Exemplo de Sabin Foi Salvar Vidas
No auge do século XX, quando a poliomielite aterrorizava famílias no mundo todo, deixando milhares de crianças com paralisias irreversíveis, um cientista judeu, nascido na Polônia e naturalizado norte-americano, mudaria para sempre o curso da história da saúde pública. Seu nome: Albert Bruce Sabin.
A poliomielite era, até os anos 1950, uma sentença de sofrimento. Hospitais em todo o mundo estavam cheios de crianças em pulmões de aço, equipamentos que mantinham os pacientes vivos, já que a paralisia dos músculos respiratórios os impedia de respirar sozinhos.
Sabin dedicou sua vida ao estudo dos vírus. E foi durante décadas de pesquisa que desenvolveu a vacina oral contra a poliomielite, uma inovação que revolucionou a saúde pública. Diferente da vacina injetável desenvolvida por Jonas Salk, sua versão utilizava o vírus atenuado e, ao ser administrada por via oral, além de proteger o indivíduo, quebrava a cadeia de transmissão, fundamental para o controle comunitário da doença.
Mas talvez o gesto mais revolucionário de Sabin tenha sido uma escolha ética: ele recusou-se a patentear sua vacina. Seu argumento era simples e poderoso: "Muita gente trabalhou para desenvolver esta vacina... Ela pertence ao povo. Não há patente. Pode ser usada por todos."
Por trás desse compromisso inabalável com a vida, havia uma história de dor que moldou profundamente sua visão de mundo. Sabin nasceu em 1906, em uma família judia na Polônia. Ainda na infância, fugiu com os pais para os Estados Unidos, escapando dos pogroms e da crescente onda de antissemitismo que assolava a Europa.
Mas nem toda sua família teve a mesma sorte. Durante a Segunda Guerra Mundial, parentes que permaneceram na Polônia foram vítimas diretas do Holocausto. Duas sobrinhas-netas, ainda crianças, foram assassinadas pelos nazistas no campo de extermínio de Treblinka, onde mais de 900 mil pessoas foram mortas em menos de um ano. Ao todo, estima-se que mais de 70 membros da família de Sabin morreram vítimas da barbárie nazista, incluindo primos, tios, sobrinhos e avós.
Essa dor jamais foi esquecida. Anos mais tarde, perguntado sobre como lidou com essa tragédia, Sabin respondeu com uma frase que ecoa até hoje como um manifesto ético: A minha vingança contra a barbárie foi salvar vidas.”"Minha resposta não foi ódio, nem destruição. Foi combater os verdadeiros inimigos da vida, os vírus, a doença, o sofrimento."
Graças a sua decisão ética de não patentear a vacina, ela pôde ser produzida em larga escala, com baixo custo, chegando aos países mais pobres e salvando milhões de vidas. No Brasil, a poliomielite foi considerada eliminada em 1989, um feito histórico possível graças à ciência pública, à colaboração internacional e à mobilização social em campanhas de vacinação.
O legado de Albert Sabin nos inspira a lembrar que a verdadeira grandeza da ciência está em seu compromisso com a humanidade. Seu exemplo prova que conhecimento, quando colocado a serviço da vida, se torna uma das mais poderosas forças de transformação social.
Fontes:
1. Declaração de Albert Sabin em entrevistas documentadas na década de 1960. Fonte: Offit, P. A. (2005). The Cutter Incident: How America's First Polio Vaccine Led to the Growing Vaccine Crisis. Yale University Press.
2. Dados do United States Holocaust Memorial Museum (USHMM) e do Yad Vashem sobre o campo de extermínio de Treblinka.
3. Relatos documentados na biografia Sabin: The Life and Work of a Polio Vaccine Pioneer, por David M. Oshinsky, 2006.
4. Entrevistas concedidas por Albert Sabin na década de 1980, citadas em Oshinsky, D. M. (2006). Polio: An American Story. Oxford University Press.
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