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11/09/2023

Pesquisadores da UFMG desenvolvem a Calixcoca, vacina terapêutica para o tratamento da dependência em cocaína

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram a Calixcoca, vacina terapêutica para o tratamento da dependência em cocaína, que já se encontra em fase avançada, com resultados promissores na fase de testes pré-clínicos. A vacina também poderá ser utilizada para usuários de crack. 

“Caminhamos, agora, para o registro desse medicamento na Anvisa para, com isso, conseguir a autorização para estudos com humanos”, diz o bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e professor do Departamento de Saúde Mental, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Frederico Duarte Garcia.  Ele é o coordenador do estudo, que reúne pesquisadores das áreas de Medicina, Química, Farmácia e Veterinária. 

Por seu caráter inovador, a vacina já teve patente depositada no Brasil e nos Estados Unidos e está concorrendo ao Prêmio Euro de Inovação na Saúde, que reconhece grandes inovações na área médica e é patrocinado pela multinacional farmacêutica Eurofarma. O resultado do Prêmio ainda não foi divulgado.

Segundo o professor Garcia, o percentual da prevalência do uso de cocaína uma vez na vida entre a população adulta é de 3,8%, o que representa cerca de 5 milhões de brasileiros com 18 anos ou mais. Nos últimos 12 meses, a utilização da cocaína observada na população adulta foi de 1,7%, o que abrange mais de 2 milhões de brasileiros. No caso dos adolescentes, ainda segundo o professor, 2,3% já declararam ter usado cocaína ao menos uma vez na vida e 1,6% deles, ou 225 mil adolescentes, confessaram ter usado a droga nos últimos 12 meses.

Segundo dados apresentados no Relatório Mundial sobre Drogas 2023, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), a cocaína foi a droga estimulante mais consumida no período. Em 2021, a estimativa foi a de que cerca de 22 milhões de pessoas ao redor do mundo tenham consumido a droga, o que representa 0,4% da população mundial adulta. 

“Das pessoas que consomem a droga, sabemos que uma em cada quatro se tornará dependente, o que é uma quantidade expressiva e resulta em um importante problema de saúde pública”, afirma o professor Garcia. Confira a entrevista completa com o professor na matéria

 

Abuso de cocaína: um problema de saúde pública

Dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNOD) indicam que atualmente, dos cerca de 275 milhões de usuários de crack e cocaína em todo o mundo, 36 milhões sofrem de transtornos associados ao uso de substâncias. 

As Américas e a Europa Ocidental seguem sendo os principais mercados de consumo da droga, e há uma forte preocupação no contexto brasileiro. De acordo com o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. A maior parte dos pacientes é do sexo masculino com idade de 25 a 29 anos.

A dependência de drogas lícitas ou ilícitas é considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O diagnóstico e a gravidade do transtorno por dependência são avaliados dentro de quatro categorias:

      1) Controle prejudicado quanto ao uso (uso contínuo apesar do desejo de parar);

      2) Prejuízo social (descumprimento de obrigações relativas ao seu papel no trabalho, na escola ou em casa);

      3) Exposição ao fator de risco (direção de automóvel sob uso de substância, por exemplo); 

      4) Sintomas farmacológicos (abstinência, por exemplo).

A droga passa a ocupar um espaço central na vida do indivíduo, que não consegue conter o vício, afetando sua vida psíquica, emocional, física e, consequentemente, social e financeira. O dependente químico tende a apresentar a compulsão pelo uso da droga, sintomas de abstinência, necessidade de doses crescentes para atingir o efeito inicial, falta de controle sobre a quantidade do uso e abandono de atividades como lazer, convívio social, esportes e outros.

 

CALIXCOCA: Um tratamento pioneiro

Ainda segundo o coordenador do estudo, Fernando Garcia (UFMG), um dos principais problemas no tratamento do vício da cocaína e de seus derivados é que não há nenhum medicamento específico para o problema. Na maior parte dos casos, são medicamentos utilizados para outras doenças, como antidepressivos, que tentam melhorar os sintomas de abstinência e compulsão. 

“O que mais prejudica o tratamento é a primeira recaída após um tratamento de abstinência, que parece ativar o circuito de recompensas e fazer com que o paciente volte a ter compulsões pela droga” diz o pesquisador em entrevista para a FOLHA, e afirma que a Calixcoca evita a primeira ativação, dando um tempo maior aos dependentes para a reabilitação.

 

Ajuda

O SUS garante o atendimento e acompanhamento para quem tem qualquer tipo de dependência química, em qualquer idade. A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada e tem papel fundamental na abordagem desses pacientes. A rede também conta com centros especializados nesse tipo de atendimento, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). 

 

Fontes:

 

Relatórios (2022 e 2023) do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNOD) 

https://www.unodc.org/res/WDR-2023/Special_points_S.pdf

https://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/wdr-2022_booklet-4.html

 

https://www12.senado.leg.br/institucional/sis/noticias-comum/aumenta-o-numero-de-pessoas-com-transtornos-por-uso-de-drogas-e-alcool

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2023/05/brasileiros-desenvolvem-vacina-contra-crack-e-cocaina.shtml

https://institutodepsiquiatriapr.com.br/blog/dependencia-de-cocaina-prejuizos-tratamento-e-mais/

https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/09/brasil-e-o-segundo-maior-consumidor-de-cocaina-e-derivados-diz-estudo.html

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