NOTÍCIAS

MENU NOTÍCIAS

28/04/2021

Projeto da USP permitirá estimar a cobertura vacinal no Brasil

Elton Alisson | Agencia FAPESP - A despeito de o Brasil ter um dos mais bem-sucedidos programas de vacinacao, nao e possivel saber exatamente quantos brasileiros estao protegidos contra o sarampo, por exemplo. Isso porque o registro do historico de imunizacoes feitas na rede publica de saude do pais nas ultimas decadas esta guardado em cadernetas de vacinacao em papel.

A fim de auxiliar o Programa Nacional de Imunizacoes (PNI) do Sistema Unico de Saude (SUS) a estimar a cobertura vacinal em diversas regioes do pais, um grupo de pesquisadores da Universidade de Sao Paulo (USP) iniciou um projeto com o objetivo de digitalizar as carteiras de vacinacao antigas e em papel do maior numero possivel de brasileiros.

Batizado de Levacc, o projeto foi encomendado pelo Ministerio da Saude e e apoiado pela FAPESP.

"Com base na informatizacao dos dados das carteiras de vacinacao de milhoes de brasileiros, os tecnicos do Ministerio da Saude poderao determinar melhor a cobertura vacinal das regioes do pais. Com isso, poderao planejar campanhas de vacinacao ou desenhar estrategias para evitar surtos de doencas para as quais ha vacinas", diz a Agencia FAPESP Helder Nakaya, vice-diretor da Faculdade de Ciencias Farmaceuticas (FCF-USP) e coordenador do projeto.

Nakaya e um dos pesquisadores principais do Centro de Pesquisa em Doencas Inflamatorias (CRID) - um Centro de Pesquisa, Inovacao e Difusao (CEPID financiado pela FAPESP.

Na primeira etapa do projeto, os pesquisadores estao coletando fotos de cadernetas de vacinacao, que podem ser tiradas por meio de smartphone e enviadas pelo site do projeto.

Os voluntarios precisam enviar apenas a imagem do registro de historico de vacinacoes na caderneta, sem a necessidade de expor seus dados pessoais.

As fotos das cadernetas de vacinacao enviadas pelos voluntarios ajudarao os pesquisadores a treinar um algoritmo de inteligencia artificial que estao desenvolvendo para identificar quais vacinas e quantas doses foram aplicadas.

"Precisamos coletar grandes quantidades e diferentes modelos de caderneta de vacinacao para termos uma base de dados robusta o suficiente para treinar o algoritmo que estamos desenvolvendo, de modo que ele seja capaz de identificar os quadrantes da caderneta e verificar qual vacina e quantas doses foram administradas", explica Luiz Durao, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e coordenador tecnologico do projeto.

Os pesquisadores identificaram que ha dois tipos de caderneta de vacinacao em papel em circulacao no Brasil. Uma delas e estruturada em um modelo de coluna, em que no topo de uma coluna consta o nome da vacina e nos quadrantes abaixo o numero do lote e a data da imunizacao. Na maioria dos casos essas informacoes foram registradas manualmente, a caneta ou a lapis.

O segundo modelo de caderneta, mais recente, e o de etiqueta, em que foram colados nos quadrantes rotulos com informacoes sobre a vacinacao impressas ou registradas manualmente.

"O algoritmo que estamos desenvolvendo sera capaz de identificar esses dois tipos de marcacoes nos quadrantes e conseguira 'ler' as informacoes da etiqueta ou identificar quais colunas de uma determinada vacina estao ou nao preenchidas em uma caderneta", relata Durao.

Aplicativo movel

Com base no algoritmo, os pesquisadores vao desenvolver um aplicativo movel para ser utilizado por agentes responsaveis pela vacinacao em Unidades Basicas de Saude (UBSs).

O aplicativo permitira obter dados basicos dos pacientes, como o nome e endereco, e registrar uma foto para identificacao. O algoritmo de leitura integrado ao sistema possibilitara detectar quais vacinas o paciente ja recebeu e quantas doses.

Os dados serao armazenados em um servidor local e, futuramente, na nuvem. A ideia e que possam ser integrados ao sistema do PNI para complementar a base de dados e permitir que os tecnicos do programa possam fazer estimativas de cobertura vacinal de diferentes regioes do pais.

"Desenvolvemos o primeiro prototipo funcional do aplicativo sem o algoritmo de leitura integrado, mas ja com as funcoes de coleta de dados e para tirar foto dos pacientes e da carteira de vacinacao em papel", diz Manoela Gomes Domingos da Silva, mestranda no Programa de Pos-Graduacao em Neurologia e Neurociencias da Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto (FMRP) da USP e participante do projeto.

Nessa etapa de teste do aplicativo sera avaliada a usabilidade do sistema pelos agentes de saude responsaveis pela vacinacao nas UBSs e como sera o fluxo para coleta e integracao dos dados. Paralelamente, os pesquisadores aprimorarao o algoritmo de leitura de cadernetas de vacinacao a fim de melhorar a precisao.

"Essa fase de teste permitira melhorar e colocar mais funcionalidades no aplicativo e consertar eventuais erros. No final dessa etapa, ele sera aprimorado e integrado com o algoritmo de leitura", diz Silva.

Os pesquisadores pretendem aproveitar a campanha de vacinacao contra a COVID-19 para coletar mais fotos de carteiras de vacinacao para aumentar a base de dados para treinar o algoritmo de leitura.

Fotos de carteiras de vacinacao podem ser enviadas por meio do site https://levacc.csbiology.org/.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agencia FAPESP de acordo com a licenca Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

 

Assine nossa newsletter