22/05/2023
SARS-COV2 pode provocar alterações na glicemia de pacientes internados
Pesquisadores do CRID coordenaram estudo que descobriu que o vírus SARS-COV2 pode infectar células do fígado, os hepatócitos, e estimular a produção de glicose, acarretando alterações em pacientes que não apresentavam quadros diabéticos previamente.
Os resultados do estudo publicado essa semana (15/05) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) mostraram como funciona a infecção do vírus da COVID-19 nos hepatócitos, como impactam o metabolismo da glicose e indicam caminhos de possíveis formas de evitar agravamentos mais sérios no quadro clínico dos pacientes.
A pesquisa também mostra que a entrada do vírus nas células do fígado é mediada em partes pelas proteínas GRP78 e ACE2, e devido à sua composição mais “leve” a níveis moleculares o vírus consegue se ligar e infectar. A presença da expressão da proteína ACE2 é um dos pontos de maior destaque da pesquisa, uma vez que até então se considerava não haver expressão deste receptor nas células do fígado.
Apesar de desde o início da pandemia a diabetes ter sido considerada um fator de risco, haviam muitas incertezas acerca dos mecanismos que tornavam os quadros 2 vezes mais graves para diabetes tipo 2, e 3,5 vezes mais para diabetes tipo 1.
Métodos
Os cientistas apoiados por quatro projetos da FAPESP e sediados no CRID, percorreram um longo caminho até atingirem seus resultados inovadores. O trabalho envolveu um grupo de 269 pacientes da UTI do Hospital das Clínicas de Ribeirão Pretom e 633 pacientes do Centro de Estudos e Pesquisas em Medicina Intensiva (Cepeti) de Curitiba, internados com COVID-19 entre março e agosto de 2020, submetidos a testagem por PCR.
O grupo controle continha pessoas com outros tipo de doenças respiratórias, internados ao mesmo tempo na UTI. Essa escolha foi realizada devido à similaridade de sintomas e a mesma ambientação, mas com a comprovação do teste PCR negativo.
Após análise, os pesquisadores constataram, através das biópsias de pacientes, que o SARS-Cov-2 infecta os hepatócitos humanos, mas não causa a morte dessas células, mas sim as usa para se replicar e estimular a produção de glicose resultando em hiperglicemia no paciente infectado. Posteriormente, foram realizadas análises em hepatócitos primários in vitro, utilizando diferentes variantes da doença e constatou-se que todas variantes são capazes de infectar os hepatócitos e aumentar a produção de glicose através de um mecanismo chamado de gliconeogênese.
Possíveis tratamentos
O professor Luiz Leiria, coautor do artigo, aponta que: “Outros estudos verificaram que a metformina tem um efeito protetor sobre os pacientes em estado grave de COVID19, e este fármaco age inibindo a gliconeogênese no fígado . Claro que a metformina age de diversas formas, mas é um caminho para dar uma proteção adicional aos pacientes.”
O artigo na íntegra pode ser acessado em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2217119120
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