09/06/2025
Universidade pública sob ataque silencioso: invisibilidade é também desmonte
A Universidade pública brasileira vive hoje uma crise silenciosa, e profunda. Uma crise que não diz respeito apenas ao orçamento ou à infraestrutura, mas à sua própria visibilidade social e institucional, tanto no cenário internacional quanto dentro do país. Em 2025, o Center for World University Rankings (CWUR) publicou que 87% das Universidades brasileiras perderam posições no ranking global. Nesse contexto, a Universidade de São Paulo, referência no Ensino e na Pesquisa latino-americana reduziu uma posição, da 117a para 118ª. Apesar de exceções pontuais, como o avanço da UFRJ e da Unicamp, os dados revelam um declínio preocupante na projeção internacional de nossas Instituições.
Essa queda está longe de ser pontual ou técnica. Ela é reflexo direto de uma década marcada pela redução sistemática de investimentos em ciência e tecnologia, pela precarização das condições de trabalho docente, pela fuga de pesquisadores e pelo desmonte de políticas estruturantes para o desenvolvimento científico. A produção do conhecimento no Brasil, que já ocupou papel estratégico na resposta a emergências sanitárias, no desenvolvimento de tecnologias sociais e na formação de gerações inteiras de profissionais, tem sido fragilizada por sucessivos cortes, contingenciamentos e instabilidades.
No entanto, talvez o dado mais alarmante seja extramuros. Uma pesquisa conduzida pelo Centro Sou Ciência demonstrou que quase 40% da população brasileira não sabe o que se faz em uma Universidade pública, e apenas 11% a associa à produção científica. Esse dado escancara um distanciamento simbólico grave entre a Universidade e a sociedade brasileira. A Instituição responsável por mais de 95% da ciência nacional tornou-se, paradoxalmente, invisível para grande parte da população que mais se beneficia dela.
Essa invisibilidade não é neutra. Uma Universidade que não é reconhecida pelo seu valor corre o risco de não ser defendida. Sem o respaldo da sociedade civil, torna-se mais vulnerável à pressões políticas, retrocessos institucionais e cortes orçamentários. Isso afeta diretamente não só o presente da educação e da ciência, mas o futuro do país enquanto nação capaz de produzir conhecimento autônomo, crítico e comprometido com a transformação social.
Mais do que nunca, é necessário afirmar que a Universidade pública é um bem coletivo. Seus laboratórios não produzem apenas artigos, produzem vacinas, medicamentos, diagnósticos, políticas públicas, tecnologias e soluções para problemas concretos que atravessam o cotidiano da população brasileira. Seus docentes e estudantes se dedicam, com excelência reconhecida, a pesquisas de impacto global e ações de extensão profundamente enraizadas nas demandas sociais.
A superação dessa crise de visibilidade exige mais do que recursos. Exige que a Universidade também amplifique sua voz. Que se aproxime da população não apenas pelo Ensino, mas pela escuta e pela presença. Que reforce suas estratégias de comunicação pública, de divulgação científica e de articulação com escolas, coletivos, comunidades e territórios. Que ocupe com coragem o debate público, não como refém de disputas ideológicas, mas como Instituição comprometida com a construção de um país mais justo, informado e soberano.
Neste momento delicado, é preciso defender a Universidade pública não só com argumentos, mas com narrativas que revelem sua potência transformadora. Ciência que não se comunica, desaparece. E ciência desaparecida abre espaço para o obscurantismo, a desinformação e o atraso.
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