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17/03/2021

Mulheres na Ciência

Estamos encerrando hoje nossa série de matérias sobre as Mulheres do CRID/Mulheres na Ciência. Depois de tantas reflexões, e do excelente posicionamento da professora Larissa Cunha a respeito da desigualdade de gênero na Ciência, e dos desafios da pandemia nesse contexto (http://crid.fmrp.usp.br/noticias/um-olhar-sobre-o-futuro-das- mulheres-na-ciencia-e-como-a-pandemia-muda-isso-por-larissa-dias-da-cunha/), refletimos hoje sobre uma excelente matéria publicada pelos jornalistas Sabine Righetti e Estêvão Gamba, do jornal A Folha de São Paulo, com a curadoria da aluna de doutorado, Stella Francy, e da pós doutoranda Andreza Urba, do CRID.

Matéria da Folha: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/03/na-pos-graduacao-
mulheres-sao-maioria-entre-estudantes-mas-minoria-entre-docentes.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa
 
Apesar das mulheres comporem a maioria dos alunos em programas de pós graduação do país: 54,5%, elas ainda são a minoria em posições de comando - apenas 42,9% dos docentes são mulheres. Esta desigualdade não é restrita ao Brasil. Em um estudo realizado em 2007, com um grupo de pesquisadores do NIH, identificou-se que, até o pós-doutorado, a razão entre gênero é equilibrada na academia, mas a partir deste ponto, as mulheres tendem a desistir da carreira científica. Um fator que parece ser determinante nesta decisão é a maternidade. Enquanto 21% das mulheres declararam que a família, ou a pretensão de constituir uma, influenciam nas suas decisões profissionais, apenas 7% dos homens declararam o mesmo. Dentre as pessoas casadas, 57% das mulheres consideram reservar tempo para família como sendo muito importante, contra apenas 29% dos homens. São dados de 14 anos atrás, porém ainda atuais, que revelam o quanto a responsabilidade pela família ainda recai mais sobre a mulher. Se apesar de tudo, uma pesquisadora persiste e se torna docente ou chega a cargos de liderança, há outros obstáculos que se interpõem em sua caminhada.
 
O machismo estrutural se faz presente em muitos lugares, caracterizado pela dificuldade de uma figura feminina em ser credibilizada, em se posicionar sem que receba críticas de cunho pessoal. Surpreendentemente, no ano passado (século XXI!), um triste trabalho foi publicado: AlShebli et al., (2020) associou a mentoria feminina ao menor desempenho de pós- graduandos. Após ser duramente criticado, o grupo retratou o artigo. Apesar disso, a existência desse artigo traz o questionamento sobre o porquê deste impacto negativo e de que forma poderemos atingir a equidade de gênero em todas as etapas da carreira científica.
 
A matéria da Folha aborda alguns motivos pelos quais as mulheres podem ser prejudicadas em um processo seletivo. A maternidade certamente é uma delas. Além do preconceito implícito nesse fator, há ainda uma tendência de queda da produção científica no ano em que o bebê nasce. No entanto, isso não é levado em conta quando os currículos dos candidatos são analisados pelas bancas. Além disso, há um viés implícito de análise de postura e brilhantismo – inconsciente – a favor dos homens, segundo as pesquisadoras entrevistadas pela Folha. Mas algumas iniciativas já tem sido tomadas. A Universidade Federal Fluminense lançou um Manual de Boas Práticas em Processos Seletivos, que visa reduzir esse tipo de desigualdade. Muito mais que isso, todos nós precisamos refletir sobre o assunto. Finalizamos essa semana de forma realista, sabendo que as diferenças sim existem, mas propondo reflexões e soluções. Há espaço para todas as Mulheres na Ciência e demos exemplos disso ao longo desses dias.
Mas cabe a todos nós assumirmos atitudes pró ativas: mulheres em sua postura e persistência, sem desistir; homens, especialmente em posições de liderança, em mudar seus conceitos e buscar a todo tempo e custo mitigar as diferenças de gênero. E todos, ensinando as novas gerações o respeito e a igualdade de responsabilidades.
É claro que há diferenças entre homens e mulheres – biológicas, psicológicas, etc. O que queremos não é sermos iguais, mas sermos respeitadas nas diferenças, e com base em ações práticas e efetivas, ter igualdade de oportunidades.
 
Martinez ED, Botos J, Dohoney KM, et al., (2007). Falling off the academic bandwagon. EMBO Reports. 8(11):977-981.
AlShebli B, Makovi K, Rahwan T (2020). The association between early career informal mentorship in academic collaborations and junior author performance. Nature Communications. 11:5855.


Matéria realizada por: Andreza Urba (Laboratório de Inflamação e Dor - LID) e Flavio Martins (CRID - Difusão e Ensino)
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