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11/03/2021

Paula Barbim Donate: Sobre Maternidade e Ciência


 

A Paulinha está conosco desde 2008. É graduada em Biologia pela Faculdade Barão de Mauá, tem Mestrado e Doutorado em Imunologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) e atualmente é pesquisadora de Pós Doutorado do CRID. Acabou de publicar um trabalho muito relevante, em que mostra a associação entre o consumo de cigarro e a evolução da erosão óssea na artrite reumatoide. 

*Você pode conhecer mais sobre esse artigo nesse link: http://crid.fmrp.usp.br/noticias/estudo-demonstra-como-os-efeitos-do-cigarro-podem-afetar-a-erosao-ossea-na-artrite/

Como temos feito ao longo dessa semana, a própria Paula nos contará sua experiência em ser mãe e cientista... 

Começo dizendo que sempre quis ser mãe. Sei que algumas mulheres não têm esse desejo, mas sempre foi um plano pra mim. E como sabemos, escolher fazer Ciência e ser pesquisador é um investimento a longo prazo. Por maior que fosse meu desejo em construir minha família, eu tinha um planejamento profissional. A ideia era ter um emprego estável, uma colocação mais definitiva, para depois planejar uma gravidez. 

Quando iniciei meu pós doutorado com financiamento da FAPESP, acreditava que ao final da vigência da bolsa já teria alcançando uma posição ou estaria muita próxima dela. Não foi o aconteceu e vi a necessidade de replanejar os próximos passos da minha carreira. Então assumi uma bolsa do CNPq e percebi que seria essencial uma experiência a mais no exterior, além do doutorado sanduíche. Como meu marido não é da área acadêmica, ele não me acompanharia e ficaríamos longe. Eu estava tentando diversas bolsas internacionais quando descobri a gravidez. E foi um grande choque! Não era pra ser naquele momento! Descobri com 12 semanas de gravidez e levou um tempo até que eu pudesse entender que todos os planos tinham mudado. Depois disso, foi uma alegria imensa. Uma gravidez é algo que envolve a família toda e temos o privilégio de ter a nossa aqui em Ribeirão Preto mesmo. 

Tive uma gravidez muito tranquila, praticamente nada mudou pra mim. Continuei com minhas atividades normais: no laboratório, em casa, na academia, em tudo mais. Inclusive, um dia antes do parto do Thomas estava em reunião com meu supervisor, o Professor Fernando, a respeito dos dados do nosso trabalho para a publicação. Você só se dá conta de que tudo realmente vai mudar quando está próximo de acontecer. Thomas nasceu e consegui aproximadamente 5 meses de licença maternidade, mas não me desliguei completamente do trabalho. Quando ele estava para completar 2 meses de vida, entreguei a primeira versão do artigo. Mas é importante deixar claro que o professor Fernando nunca me pressionou ou cobrou. A cobrança partia de mim mesma. 

Ser mãe é uma coisa inexplicável, a experiência é única de cada mulher, mas a vida muda completamente! Não tem como ser diferente... É uma reestruturação total, com você mesma, com a família, como profissional. E são várias fases de adaptação. Pra mim, uma das fases mais difíceis foi a de acordar várias vezes durante a noite para amamentar, porque eu não descansava de dia. Quando eu voltei para o laboratório, por alguns meses ficamos em uma rotina louca. Eu ia pro lab e voltava para amamentar. Foi um período bem cansativo, mas apenas um cansaço físico.

Depois que o Thomas começou a ficar na escola, achei que minha rotina de trabalho fosse voltar ao normal. Mas foi muito difícil perceber que isso nunca mais iria acontecer. Tudo estava diferente! Eu me cobrava pelo rendimento, que não era mais o mesmo. Nada podia dar errado no dia, porque eu tinha hora para pegar o Thomas na escola. Mas o laboratório e a vida científica são outra família e nesse período tive muita ajuda de amigos muito especiais, aos quais serei sempre grata.

Eu sempre quis ser mãe, mas nunca quis ficar em casa com os filhos. Eu queria ter minha carreira e meu marido sempre entendeu isso. Eu nunca me senti culpada por deixar o Thomas e ir pro laboratório, por não estar em casa 100% do tempo com ele. Eu queria ser um exemplo pra ele em todos os sentidos, eu quis manter a minha identidade. Não foi nada fácil, mas eu tinha que estar bem pra poder deixá-lo bem. E pra eu estar bem precisava do meu trabalho. Nesse sentido, sempre priorizei a qualidade e não a quantidade de tempo que passava com ele. Em 2019, ele passou a ficar na escola em tempo integral e a rotina ficou menos cansativa. 

Não é fácil equilibrar tudo: ser mãe, esposa, filha, nora, profissional, eu mesma. Não dá pra fazer tudo, e por isso, às vezes, precisamos fazer escolhas. Mas acredito que o mais incrível de ser mulher é que no fim das contas, damos conta de tudo, resolvemos tudo, fazemos acontecer. 

E que desafio foi a chegada da pandemia! Em casa, sem a escola e equilibrando o home office... Mesmo com o computador do lado, eu tinha interrupções constantes. A pandemia nos impactou bastante, e foi uma nova fase da montanha russa. Antes da pandemia o cansaço era físico, depois, passou a ser mental e foi muito mais difícil de lidar. 

Agora a fase que o Thomas está é maravilhosa (quase 3 anos). É uma novidade a cada dia! Temos dias bons e dias não tão bons, mas isso vale pra tudo na vida. Ser mãe é maravilhoso, e é preciso aproveitar, mas sem perder a identidade e sendo muito sincera consigo mesma. Ser mãe é um aprendizado e uma readaptação constantes. Ser mulher é tirar força e sanidade de onde não tem, mas a gente dá conta de tudo. A gente se transforma e faz tudo. E a Ciência é isso também. Cada mulher tem que encontrar sua própria motivação e lutar pelo que acredita. Seguir em frente. Não é fácil, mas tem outras coisas difíceis e não tem nada mais maravilhoso que o carinho do seu filho.


Ser mulher é ser muitos pedaços e ser inteira e dar conta de tudo!

Matéria realizada por: Andreza Urba (Laboratório de Inflamação e Dor - LID) e Flavio Martins (CRID - Difusão e Ensino)

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